05 março 2008

Anunciação


“I want to smell your codfish Maria” – Dijas na Pensão


Como todos sabem, aqueles que costumam frequentar a Nossa Casa, sejam ex-residentes, pensionistas, comensais ou o resto do Mundo, que toda a coisa tem uma existência afirmada temporalmente e, assim sendo, ela aparece no Mundo, lá anda e acaba por morrer materialmente. Penso que é mais ou menos isto.
Babilónia, Filisteia, Grécia, Roma, Napoleão, o Terceiro Reich, a Elsa Raposo… a lista podia continuar ad nauseam enumerando Impérios que, de fracas e bambas estruturas como as pernas do homem quando se emborracha, são corroídos por pestes e pragas que acabam por deteriorar as próprias fundações até que, finalmente, colapsam, sendo somente relembrados com saudosismo e romantismo pelas crónicas.
Infelizmente, é com muito limão azedo na boca que digo que, após a Nossa última estadia na Pensão In Vino™, se sentiu o vento frio de Waterloo: a Anunciação da Morte da Nossa Casa. Afinal, todos os sinais apontavam já nesse sentido:

1. A saída sucedânea dos vários Fundadores e a entrada de outros inquilinos (aliás, inquilinas);

2. A inevitável reestruturação da Base de Comer e Beber à Cona da Mãe, da Sede do Império Barrondínio, o que Lhe quiserdes chamar, com equipamento desnecessário como micro-ondas, máquina de lavar, que só ocupa espaço
[1] e que, para além de foder esteticamente o bonito que era a Nossa Cozinha, transformou-A num apaneleirado Salão de Chá (vá lá, que deixaram ficar os papéis nas paredes);

3. O renitente assentimento das nossas estadias com sorrisos no fundo da boca e sem dentes brancos davam para entender que já não éramos muito bem-vindos mas, como sempre, estava tudo demasiado borratcho para ter reparado com cabecinha.


Isto foi mais ou menos como quando a cristandade chegou a Roma sorrateira e mesquinha pelos esgotos, a seguir foi só soar nas trompetas a música dos Ralph Stripyder, acabar a Festa e “pouco barulho”: os sinais eram Braillemente evidentes, estavam lá, todos os viram, contudo, não pudemos fazer nada, porque por vezes não sentimos o Fim chegar ou não o queremos ver, assim como um gesto carinhoso num filme porno: enternecedor mas pouco provável. Foi quando a depressão e os quarenta irromperam Elsa adentro; Nós, só pudemos assistir inconsoláveis ao Sex Appeal na Sic Gold e relembrar aquelas mamas com ar de Porcina e o bigode adolescente outra vez...

Como havia anteriormente referido, a gota d’água foi quando no Nosso último FDSA
[2]. Contrariamente à situação que depois viria a acontecer, tudo Nos prometia um Sábado de Borracheira Bárbara e de Convívio Extremo, visto ser 14 de Dezembro: íamos estar lá os Quatro, quatro representantes do mais Puro-sangue Beirão, Oleirense[3] e Flaviense para mostrar que o Homem ainda curte à antiga.
Curtimos, sim senhor e muito. Já não me lembro muito bem como mas foi quase abuso de curtir; o que não foi bom, todavia, foi chegar a casa e, quando tudo já estava mudo e quedo, uma actual inquilina mandar tudo fora e que isto e o outro e que o caralho. Triste de se ver e de se ouvir, principalmente quando a situação poderia ter sido evitada pela mesma inquilina: há gente burra como o caralho.
Assim, e de forma conclusiva e fatal, declaro funestamente, por minha parte, a Morte Daquela Casa, a que foi a Mai Maior do Mundo; onde neste não cabiam afrontas, heresias e borracheiras que tais, foram proclamadas as novas leis acerca do Funcionamento do Universo, da Política, da Geografia, Leis dos Paradoxos, Ortografia, Botânica, Zoologia, Linguística, tentou-se provar a existência ou não de homossexuais no Norte do Nosso Lindo Portugal; certo indivíduo chorou que “o amor é uma ilha e eu sou um náufrago”
[4]; Meu Deus! E que poético paradoxo como “deixa entrar a luz da noite”[5], vão ficar por balbuciar; onde surgiu a ideia de organizar o BarrondFest que iria juntar os três povos mais bêbados do Mundo: Portugueses, Russos e Irlandeses; onde surgiu a grandiosa ideia de Alevantar o Esplendor do Portugal através de uma sebastianista indústria extremamente lucrativa, ainda que bastante sombria, em que os xaliguns[6] detinham um papel preponderante: sendo escravos ou matéria-prima para alimentar os demais compatriotas; onde se organizaram colóquios nos quais só não aprendia quem não queria: tal era a Pedagogia Barrondínia, que como sangue de uva, discorria eloquentemente, qual Banquete platónico, através de caralhadas e eleições de Miss Porcina 2006/7, o Caos e a Nova Idade Média no Mundo. No fim, sobra-nos só ler esta bacorada e a resignação de termos de nos emborrachar noutro sítio, sem que seja em Casa, a ouvir, em delirium tremens, o I Wanna Know What Love Is.



[1] Que antes era para pôr lixo, jogar jogos T21s-type com rolhas, colheres de pau e garafas de Compal vazias e fazer círculos de fogo no chão com álcool, e. g.
[2] Fim-de-semana Alucinante.
[3] Sim, porque apesar de Beirões, os Oleirenses descendem de uma fina miscegenação de Orcs nórdicos e bêbados árabes. Esta teoria é discutível porque toda a gente sabe que os habibis não bebem.
[4]Autoria do mui ilustre filósofo candidato a Dux, Cabeça.
[5] Tamagoshy, aka: A Morte.
[6] Chineses.

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